quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Castelo de Areia

Uma grande esfera amarela boiava em um céu de azul pálido. Abaixo, o mesmo azul refletia-se no mar vagaroso que rebentava em ondas tímidas. Sentada na areia havia uma garotinha, cujos anos ainda não foram suficientes para fazê-la compreender a beleza singela daquele cenário. Em uma das mãozinhas segurava uma pequena pá de plástico colorido. Ao lado, depositou um balde com água e, toda vez que ele se esvaziava, ela andava em direção à água e recolhia uma ínfima porção de oceano. Apesar de encontrar-se ali há um tempo considerável, não aparentava cansaço ou incômodo,  apesar dos grãos de areia cravados nos joelhos. Parecia, antes, jubilosa e satisfeita.


Quando esvaziou a última gota do balde e largou a pá de lado, abriu um grande sorriso, acompanhado por um suspiro de orgulho. À frente dela erguia-se uma rústica forma esculpida na areia, mas que aos seus olhos mostrava-se um castelo. Sentou-se e ficou a admirar sua obra recém-criada. Imaginou-se ali vivendo como uma princesa, andando pelas torres garbosas e luxuosas, dançando em magníficos bailes no salão real. Era um castelo de areia como qualquer outro e qualquer criança poderia tê-lo construído. Era tosco e torto, mas sob o olhar da menina ele era lindo, harmonioso, perfeito.

SSANDBOXQuando seus pensamentos aterrissaram novamente, reparou que a maré subia. Uma dúvida inescapável lhe ocorreu: o que acontece agora? Tivera tanto tempo para construir aquele pedacinho de sonho que não pensara no após, no despertar. Reparou em volta. Percebeu que o vento soprava forte, as ondas se achegavam cada vez mais e a mistura de areia com água – a base do castelo – era frágil e instável. Afinal – raciocinou - castelos de areia não são feitos para durar muito tempo, são fugazes e tão passageiros quanto divertidos.

Aquilo lhe afligiu de tal forma que não podia mais se regozijar de seu árduo trabalho, mas apenas lamentar pelo seu fim iminente. Seria derrubado pelo vento? Arrastado pelas ondas? Destruído pelo ruir de sua própria fragilidade? Não era justo que estas intempéries lhes destruíssem a alegria. Olhou para aquele monte de areia toscamente esculpida, suspirou, e, agarrando uma pedra pesada para a força de seus bracinhos, arremessou-a com fúria na construção, que desabou quase instantaneamente, caindo sobre si mesma. Apenas quem a construiu tinha o direito de destruí-la.

Lentamente, as ondas chegaram e foram levando os destroços com águas tão salgadas e amargas quanto aquela pequena lágrima que agora surgia naqueles olhos infantis.