quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Namorados (não é uma auto-biografia)


Selinho, beijo de língua, abraço.
As segundas, se viam as sete. Iam ao parque, sentavam no banquinho.
Selinho, beijo de língua, abraço.
As terças, ele costumava ver os amigos. Agora todas as terças fica com ela. As sete. No banquinho. Do parque.
Selinho, beijo de língua, abraço.
Se despediam as nove, ordens do pai da moça. Ele a levava em casa.
Selinho, abraço selinho.
As quartas, não se encontravam. Ele dormia, ela assistia novelas. Atores beijando atrizes.
Beijo cenográfico de língua.
As quintas se falavam na internet. Assuntos vazios. Ele escrevia errado, ela mandava emoticons.
Bjs, bjs.
As sextas ela encontrava com as amigas. Mas ele não via os amigos, que só estavam livres na terça. Dormia mais cedo.
Boa noite.
Aos sábados, se viam as sete. Ele elogiava a beleza dela. Ela agradecia indiferente. Iam ao parque. Ele se dizia com saudades, ela não ouvia. Sentavam no banquinho.
Selinho, beijo de língua, abraço.
As nove, a levava em casa.
Selinho, abraço, selinho.
Aos domingos iam à igreja. Cantavam, rezavam, sentavam no último banco. Na volta, caminhavam pelo parque.
Beijo de língua, selinho.
Um dia, ela quis fugir da rotina. Como assim rotina? Isso mesmo quero sair da mesmice.
Mudar o corte de cabelo? Não.
Chegar em casa as dez? Papai não deixa.
Que tal sexo? Nossa religião não permite.
Discutem a relação no banquinho. Do parque. As sete.
Ele a pede em casamento. Tudo resolvido.
Selinho, beijo de língua, abraço, abraço.

Luto


Há tempos em que procuramos respostas,

e tempos em que elas nos perseguem

e nos alcançam

e laçam nossas mãos.

É quando percebemos que as lágrimas mais amargas são as que brotam nos olhos de quem amamos.

Os porquês não passam se armadilhas inúteis; não queremos a verdade, não suportamos olhar para sua face podre
e fétida. Talvez nem mesmo haja uma verdade, mas precisamos do teatro, dos rituais, dos analgésicos metafísicos.

Lá fora, pessoas riem, bebês nascem, mendigos perambulam, estudantes se formam, poetas escrevem, guerras continuam. Mas enxergamos tudo pela fresta do egoísmo, um gigantesco cenário para nós, os atores principais.
Por que me abandonaste? Perguntou o Cristo, e o silêncio foi a resposta.

O silêncio sempre é a resposta.
Tragédias acontecem, mas não há tremores, o véu do templo permanece intacto , e o dia segue azul e indiferente.
Feliz é aquele digno de lágrimas, e felizes aqueles cujas lágrimas ainda não secaram. Teimosia úmida em solo de desesperança.

Dor inconsolável: preço de ser humano.

Se até o Filho de Deus chorou ante a morte, que faremos nós?
O pó ao qual voltaremos estará encharcado pelo pranto inocente.
Se lastimamos? Cilada.
Silêncio.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Putz, mais um blog!

Machado de Assis, na introdução das memórias póstumas de Brás-Cubas, dizia: "Não admira (...) que este livro não tenha os cem leitores de Standhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito dez. Dez? Talvez cinco". O cara era modesto. Obviamente, ao dizer que este blog dificilmente chegará aos cinco leitores, não serei chamado de modesto, mas de realista e até de presunçoso. Afinal, com tanta coisa na internet, tantos amiguinhos com os quais conversar, tanto scraps pra mandar, futilidades a tuitar, porque alguém viria parar neste gueto eletrônico? Como os leitores de Machado, você, leitor do K-Blog, é um problema. Sempre querendo mais e mais entretenimento. Tudo bem, ninguém te culpa, ao contrário, te peço um favor. Seja minha cobaia.


Isso mesmo, aqui pretendo publicar toda semana aquelas idéias que ficam martelando na cabeça, sabe? E você, por favor, critique como quiser. Textos despretensiosos, sérios, viajados e também alguns anúncios é o que se verá por aqui (talvez também pequenos desabafos pessoais).
Apesar de alguns dizerem que o formato blog está morrendo, ele ainda é uma boa saída pra colocar suas idéias em uma vitrine onde qualquer um possa vê-las (e talvez até copiá-las, cuidado!). Democrático, né?

E não tinha um nome melhor não?

Se você insiste em saber o porque de K-blog eu conto. Nos velhos tempos de colégio tinha o apelido de Kapote (Acho que é auto-explicativo. Dica: além do apelido, ganhei também uma cicatriz). Kapote, K-Blog.

Negócio fechado então. Quando estiver à toa, dá um pulinho aqui. Quem sabe o K-Blog cresça e você se orgulhe de ter sido uma das primeiras cobaias. Machado se reviraria no túmulo...