domingo, 5 de dezembro de 2010

Parasita

 

- Mãe, tô com medo.

- Calma, filha, não vamos demorar muito.

- Mas e se aparecer um… você sabe…

- É só respirar fundo e relaxar, eles podem perceber o seu medo. E lembre-se: nunca, nunca olhe diretamente nos olhos.

- Arrã. Lembra como foi horrível da última vez? Meu Deus, escapamos por pouco…

- Pois é, ainda hoje, quando venho aqui, me sinto vigiada. Eles se proliferam muito lá pelos meados de dezembro.

- Vamos embora logo! Mãe? Mãe? O que foi? Porque você tá parad… Ai, essa não! Tem um vindo pra cá não tem? Tô vendo! Lá vem ele, devagar e sorrateiro, mostrando os dentes. Será que viu a gente? V-vamos emb-bora! Ele tá chagando perto, mãe! Não olhe nos olhos, mãe! Não! Resista, resista, mãããe!

- Bom dia, posso ajudar? Já têm cartão da loja?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Limbo


Ei-te vazio, vagando em solidão
Desfruta e regurgita teu destino
Tu escolheste, atraído pelo não
Ser metade de si, badalo sem sino

Ei-te perplexo, banhado em lágrimas
Bebe gota a gota este fel maldito
Sente a dor das novas lástimas
Foi profecia, já estava escrito

Ei-te invisível, um nada flutuante
Contempla tua existência à míngua
Este estado sem sentido e delirante
Foi declarado por tua própria língua

Ei-te esquecido, apagado, inerte
Lembra o sabor das póstumas alegrias
E que a fortuna um dia o desperte
Deste sono mortal das almas vazias