terça-feira, 25 de janeiro de 2011

K-BLOG de casa nova

Olá leitores!

O K-BLOG mudou de endereço, agora ele está no Wordpress:


O visual está mais moderno e funcional, e você pode ler os textos com mais conforto (não se preocupe: tudo que foi publicado aqui até agora esta lá também)

E para dar as boas vindas, entre e leia um conto novinho em folha: "Sol e Mar"

Um grande abraço e obrigado por lerem o K-BLOG.


Lucas.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Parasita

 

- Mãe, tô com medo.

- Calma, filha, não vamos demorar muito.

- Mas e se aparecer um… você sabe…

- É só respirar fundo e relaxar, eles podem perceber o seu medo. E lembre-se: nunca, nunca olhe diretamente nos olhos.

- Arrã. Lembra como foi horrível da última vez? Meu Deus, escapamos por pouco…

- Pois é, ainda hoje, quando venho aqui, me sinto vigiada. Eles se proliferam muito lá pelos meados de dezembro.

- Vamos embora logo! Mãe? Mãe? O que foi? Porque você tá parad… Ai, essa não! Tem um vindo pra cá não tem? Tô vendo! Lá vem ele, devagar e sorrateiro, mostrando os dentes. Será que viu a gente? V-vamos emb-bora! Ele tá chagando perto, mãe! Não olhe nos olhos, mãe! Não! Resista, resista, mãããe!

- Bom dia, posso ajudar? Já têm cartão da loja?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Limbo


Ei-te vazio, vagando em solidão
Desfruta e regurgita teu destino
Tu escolheste, atraído pelo não
Ser metade de si, badalo sem sino

Ei-te perplexo, banhado em lágrimas
Bebe gota a gota este fel maldito
Sente a dor das novas lástimas
Foi profecia, já estava escrito

Ei-te invisível, um nada flutuante
Contempla tua existência à míngua
Este estado sem sentido e delirante
Foi declarado por tua própria língua

Ei-te esquecido, apagado, inerte
Lembra o sabor das póstumas alegrias
E que a fortuna um dia o desperte
Deste sono mortal das almas vazias

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Poucas palavras 2



Noite
A lua, enquanto minguava,
sorria.

Ditado
O pássaro indagava-se, preso na gaiola,
se valia mais que aqueles dois voando ao longe.

Revolução
Quando finalmente a muralha caiu, perceberam
que o outro lado era exatamente igual.

Paixão
A rosa apaixonou-se pelo cacto.
Compreendia seus espinhos.

Devoção
Quando a última oração cessou,
o último deus morreu.

Ritmo
A vida andava tão depressa…
Não havia espaço para divagar.

Recompensa
As formiguinhas em fila, carregavam suas folhas.
Faminto, um tamanduá observava.

Pressa
De tanto correr, conseguiu
afastar-se de si mesmo.

Futilidade
Olhava-se no espelho todos os dias,
mas nunca parava para refletir.


Fantasia
Rapunzel jogou as tranças.
Subiu-lhe um enorme piolho.

Memória
Entristeceu-se ao perceber que aquelas fotos
já não eram mais fatos.

Busca
Procurou tanto a felicidade que
esqueceu de olhar sob o próprio nariz

Asas
O tempo, pássaro tímido.
Só voa quando ninguém está olhando.

Suicídio
“Macacos me mordam!”
Disse a banana suicida.

Solidez
Sólido, ia.
Só lhe doía a solidão.

Interrupção
Foi interrompido
bem no meio da

Carreira
Sabia tirar boas notas.
Resolveu ser ladrão.

Lavanderia
Todos assistindo à final
e ele lá, torcendo.

Comunicação
Aquelas coisas mal ditas,
se tornaram malditas.

Eva
A cobra, que ironia,
lhe passou a perna.

Ferramentas
Pobre da enxada.
Só se apaixona por picaretas.





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Castelo de Areia

Uma grande esfera amarela boiava em um céu de azul pálido. Abaixo, o mesmo azul refletia-se no mar vagaroso que rebentava em ondas tímidas. Sentada na areia havia uma garotinha, cujos anos ainda não foram suficientes para fazê-la compreender a beleza singela daquele cenário. Em uma das mãozinhas segurava uma pequena pá de plástico colorido. Ao lado, depositou um balde com água e, toda vez que ele se esvaziava, ela andava em direção à água e recolhia uma ínfima porção de oceano. Apesar de encontrar-se ali há um tempo considerável, não aparentava cansaço ou incômodo,  apesar dos grãos de areia cravados nos joelhos. Parecia, antes, jubilosa e satisfeita.


Quando esvaziou a última gota do balde e largou a pá de lado, abriu um grande sorriso, acompanhado por um suspiro de orgulho. À frente dela erguia-se uma rústica forma esculpida na areia, mas que aos seus olhos mostrava-se um castelo. Sentou-se e ficou a admirar sua obra recém-criada. Imaginou-se ali vivendo como uma princesa, andando pelas torres garbosas e luxuosas, dançando em magníficos bailes no salão real. Era um castelo de areia como qualquer outro e qualquer criança poderia tê-lo construído. Era tosco e torto, mas sob o olhar da menina ele era lindo, harmonioso, perfeito.

SSANDBOXQuando seus pensamentos aterrissaram novamente, reparou que a maré subia. Uma dúvida inescapável lhe ocorreu: o que acontece agora? Tivera tanto tempo para construir aquele pedacinho de sonho que não pensara no após, no despertar. Reparou em volta. Percebeu que o vento soprava forte, as ondas se achegavam cada vez mais e a mistura de areia com água – a base do castelo – era frágil e instável. Afinal – raciocinou - castelos de areia não são feitos para durar muito tempo, são fugazes e tão passageiros quanto divertidos.

Aquilo lhe afligiu de tal forma que não podia mais se regozijar de seu árduo trabalho, mas apenas lamentar pelo seu fim iminente. Seria derrubado pelo vento? Arrastado pelas ondas? Destruído pelo ruir de sua própria fragilidade? Não era justo que estas intempéries lhes destruíssem a alegria. Olhou para aquele monte de areia toscamente esculpida, suspirou, e, agarrando uma pedra pesada para a força de seus bracinhos, arremessou-a com fúria na construção, que desabou quase instantaneamente, caindo sobre si mesma. Apenas quem a construiu tinha o direito de destruí-la.

Lentamente, as ondas chegaram e foram levando os destroços com águas tão salgadas e amargas quanto aquela pequena lágrima que agora surgia naqueles olhos infantis.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Doença Terminal

Canelas apressadas vão em todas as direções. Mãos abertas oscilam no ar. Pulsos ostentam relógios tiquetaqueantes. No terminal rodoviário, o agora é onipresente.

DespedidaAs pessoas, formiguinhas, partículas caóticas, movimentam-se de um lado a outro em busca da sua direção. Há também os que esperam e os que correm. Mas a pressa que devoram não lhes confere vida alguma. No terminal rodoviário, o tempo se distorce.

Aqui e acolá despontam abraços de alívio ou de angústia. E também lágrimas, de reencontro ou de separação, algumas tímidas, outras inéditas, outras secas. No terminal rodoviário, o lugar da despedida é sempre um abraço. E cada adeus a Deus somente cabe testemunhar.

Pessoas partem. Corações se partem. Mas os que chegam sempre voltam com mais bagagem.

Eles vão e vêm. E vêem em vão o outro diminuindo no horizonte.

Ao longe, no terminal rodoviário, mãos que acenam adeus são iguais as que acenam bem-vindo.
São idas e vindas tão fugazes quanto a onda que, ao ser quebrada, retorna ao mar que lhe cuspiu.

No terminal rodoviário, as pessoas estão doentes. Pacientes impacientes. Contaminados de saudade, doença terminal.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Texto

Saudações. Permita-me que eu me apresente: sou um texto, como já deves ter percebido. Não tenho nome marcante, não sou príncipe, nem conde e tampouco barão. Meu único título é este aí de cima. Como vim parar aqui não sei. Talvez tenha sido escrito, ou simplesmente cuspido, só sei que aqui estou eu. Tu sabes como fostes parar aí onde estás? Quem te escreveu ou cuspiu? Quanto a mim, não encontrarás em meu corpo grandes defeitos ortográficos ou doenças verbais, mas sei que estou longe de ser elegante. Mas não culpo meu autor, como já disse, o desconheço.
Não se engane: eu não tenho nada a dizer. Porque é que todos acham que os textos devem sempre dizer algo? Justo nós que temos uma existência tão breve que só dura enquanto pousam os olhos sobre nós, sedentos de informação, distração, emoção ou qualquer coisa que um texto possa proporcionar. Mas não este que vos fala. Ao que me parece eu bem poderia ficar um tempo em silêncio.




























































Viu só?
TAMBÉM POSSO GRITAR!
Oufalartudodeumavezsemrespirarnemperderofôlego.
Se assim lhe agradar
Também posso rimar.

Posso ir daqui 

até lá.

Mas estas pequenas margens

são o limite do meu mundo.

Portanto, a única maneira de manter alguma chama viva de minha natureza é em forma de pensamento, mesmo que esta chama se apague fugazmente um tempo depois. Se pensares em mim, então, viverei um pouco mais. Do contrário, sou como qualquer outro de teus semelhantes: apareço em tua vida, andamos de mãos dadas e nos despedimos na próxima estação.

De qualquer forma, obrigado pela companhia, foram excelentes minutinhos. Se sou um bom texto espero ter, igualmente, lido-te também.
Devo partir agora. Na linha-férrea da existência saltarei no próximo ponto.

E aqui está ele.