Os finais felizes
Fenecem as raízes
Em beijos de atrizes
No limbo da ficção.
Irreais, desejados
Jazendo maltratados
Já saindo atrapalhados
No final de uma sessão.
Até que os olhares,
Brilhando assim aos pares,
Padecem pelos males
De ser tudo ilusão.
Mas uma esperança
(Ainda tola: é criança)
Com toda confiança
Aparece no coração.
E se a verdade é bem pouca,
A alegria é uma louca
Ladrando com voz rouca
E ameaçando a razão.
E assim, a realidade,
Esta velha de muita idade,
Se rende à necessidade
De viver com emoção.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Final Feliz
terça-feira, 27 de julho de 2010
Lua
Assim, iluminada por uma fraca luz laranja em sua semi-esfera inferior, A lua crescente parecia sorrir debochadamente. Quantas promessas, quantas juras de amor já teriam sido feitas evocando o romantismo deste corpo celeste? Por quantas vezes terá sido este círculo branco a única paisagem em comum entre dois amantes distantes? Quantas lágrimas já atraíra de olhares com a mesma intensidade que atrai as águas do oceano e as faz encher as marés? Não seria ela própria uma apaixonada pelo globo terrestre, orbitando em sua volta sem jamais poder toca-lo e, por vezes, bloqueando o Sol em eclipses de ciúmes?
E, lá do alto, ela observa. Uma testemunha distante, debochada e eterna. Mas ainda sim louvada, admirada e amada.
Ela sabe que, ao contrário do que nossa história conta, foi a Lua quem conquistou o Homem.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
A criatura alada
Caminhou com aquele andar vacilante próprio das crianças pequeninas, afastando-se da atenção do pai, entretido com as questões mais importantes do universo impressas em um quadrado de papel.
E aquela criança, pela primeira vez em sua breve vida, ficou perplexa. Uma sensação que seu incipiente vocabulário não era capaz de descrever. Mas não seriam também as palavras dos adultos pobres e vazias? "Saudade", "amor", "esperança" conseguiriam descrever tudo o que elas representam? Porque tudo que sentimos deve estar preso às palavras? São indagações que aquele garotinho só faria anos mais tarde. Ou será que não? Talvez ele crescesse e simplesmente se conformasse com a tirania do dicionário frio, vazio, inescapável.
Nunca saberemos.
Uma mão , de repente, tocou-lhe o ombro, mas ele não se assustou, voltando logo a fixar os olhos à frente. "É só um cisne", disse uma voz masculina. E naquele instante, como por alguma mágica maligna, o encanto se foi. Aquela criatura magestosa, de asas alvas e olhos negros de beleza inefável passou a ser um simples "cisne". Mesmo sem saber, o garotinho sentia como se aquela canto agudo e doce das aves tivesse cessado repentinamente. A sua perplexidade fora arrancada e levada embora por um novo sentimento cuja sensação também não estava no seu vocabulário: desilusão.
E o resto foi silêncio.