Abriu-a.
A caixa, como se houvera sido violada em seus segredos, respondeu mostrando-lhe um velho álbum de fotografias; um objeto pertencente há um outro “quando”. Uma época onde as memórias eram dignas de serem protegidas do onipotente e corrosivo tempo e sua cauda escura, o esquecimento. E o que aquelas molduras enquadravam nada mais eram que resquícios, migalhas de de uma era passada há poucos ontens, mas há muitos nãos de distância.
A cada página virada, o coração hesitava em bater novamente. Aqueles sorrisos imóveis, aqueles abraços para sempre aconchegantes, os olhares de brilho incorruptível, aqueles beijos libertados de seu minúsculo fragmento de tempo. Todo esse caleidoscópio girava antes os olhos e fazia doer o peito, como se houvesse em seu interior um câncer até então adormecido.

Virou a caixa de cabeça para baixo, esvaziando-a com fúria. E dali saíram todas as suas póstumas alegrias, transmutadas em suas desgraças. Olhou para o fundo da caixa, mas não havia ali esperança alguma. “Talvez ela tenha ido embora ou morrido” – indagou-se. “Mas, se a esperança é a última a morrer” – pensou - “ o que resta de vivo em mim?”
Do chão, seus próprios olhos brilhantes o contemplavam com sorrisos ironicamente imóveis. A última partícula de pó flutuou, rodopiou pela última vez e depositou-se delicadamente sobre sua última vontade de viver.
Legal
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