domingo, 5 de dezembro de 2010

Parasita

 

- Mãe, tô com medo.

- Calma, filha, não vamos demorar muito.

- Mas e se aparecer um… você sabe…

- É só respirar fundo e relaxar, eles podem perceber o seu medo. E lembre-se: nunca, nunca olhe diretamente nos olhos.

- Arrã. Lembra como foi horrível da última vez? Meu Deus, escapamos por pouco…

- Pois é, ainda hoje, quando venho aqui, me sinto vigiada. Eles se proliferam muito lá pelos meados de dezembro.

- Vamos embora logo! Mãe? Mãe? O que foi? Porque você tá parad… Ai, essa não! Tem um vindo pra cá não tem? Tô vendo! Lá vem ele, devagar e sorrateiro, mostrando os dentes. Será que viu a gente? V-vamos emb-bora! Ele tá chagando perto, mãe! Não olhe nos olhos, mãe! Não! Resista, resista, mãããe!

- Bom dia, posso ajudar? Já têm cartão da loja?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Limbo


Ei-te vazio, vagando em solidão
Desfruta e regurgita teu destino
Tu escolheste, atraído pelo não
Ser metade de si, badalo sem sino

Ei-te perplexo, banhado em lágrimas
Bebe gota a gota este fel maldito
Sente a dor das novas lástimas
Foi profecia, já estava escrito

Ei-te invisível, um nada flutuante
Contempla tua existência à míngua
Este estado sem sentido e delirante
Foi declarado por tua própria língua

Ei-te esquecido, apagado, inerte
Lembra o sabor das póstumas alegrias
E que a fortuna um dia o desperte
Deste sono mortal das almas vazias

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Poucas palavras 2



Noite
A lua, enquanto minguava,
sorria.

Ditado
O pássaro indagava-se, preso na gaiola,
se valia mais que aqueles dois voando ao longe.

Revolução
Quando finalmente a muralha caiu, perceberam
que o outro lado era exatamente igual.

Paixão
A rosa apaixonou-se pelo cacto.
Compreendia seus espinhos.

Devoção
Quando a última oração cessou,
o último deus morreu.

Ritmo
A vida andava tão depressa…
Não havia espaço para divagar.

Recompensa
As formiguinhas em fila, carregavam suas folhas.
Faminto, um tamanduá observava.

Pressa
De tanto correr, conseguiu
afastar-se de si mesmo.

Futilidade
Olhava-se no espelho todos os dias,
mas nunca parava para refletir.


Fantasia
Rapunzel jogou as tranças.
Subiu-lhe um enorme piolho.

Memória
Entristeceu-se ao perceber que aquelas fotos
já não eram mais fatos.

Busca
Procurou tanto a felicidade que
esqueceu de olhar sob o próprio nariz

Asas
O tempo, pássaro tímido.
Só voa quando ninguém está olhando.

Suicídio
“Macacos me mordam!”
Disse a banana suicida.

Solidez
Sólido, ia.
Só lhe doía a solidão.

Interrupção
Foi interrompido
bem no meio da

Carreira
Sabia tirar boas notas.
Resolveu ser ladrão.

Lavanderia
Todos assistindo à final
e ele lá, torcendo.

Comunicação
Aquelas coisas mal ditas,
se tornaram malditas.

Eva
A cobra, que ironia,
lhe passou a perna.

Ferramentas
Pobre da enxada.
Só se apaixona por picaretas.





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Castelo de Areia

Uma grande esfera amarela boiava em um céu de azul pálido. Abaixo, o mesmo azul refletia-se no mar vagaroso que rebentava em ondas tímidas. Sentada na areia havia uma garotinha, cujos anos ainda não foram suficientes para fazê-la compreender a beleza singela daquele cenário. Em uma das mãozinhas segurava uma pequena pá de plástico colorido. Ao lado, depositou um balde com água e, toda vez que ele se esvaziava, ela andava em direção à água e recolhia uma ínfima porção de oceano. Apesar de encontrar-se ali há um tempo considerável, não aparentava cansaço ou incômodo,  apesar dos grãos de areia cravados nos joelhos. Parecia, antes, jubilosa e satisfeita.


Quando esvaziou a última gota do balde e largou a pá de lado, abriu um grande sorriso, acompanhado por um suspiro de orgulho. À frente dela erguia-se uma rústica forma esculpida na areia, mas que aos seus olhos mostrava-se um castelo. Sentou-se e ficou a admirar sua obra recém-criada. Imaginou-se ali vivendo como uma princesa, andando pelas torres garbosas e luxuosas, dançando em magníficos bailes no salão real. Era um castelo de areia como qualquer outro e qualquer criança poderia tê-lo construído. Era tosco e torto, mas sob o olhar da menina ele era lindo, harmonioso, perfeito.

SSANDBOXQuando seus pensamentos aterrissaram novamente, reparou que a maré subia. Uma dúvida inescapável lhe ocorreu: o que acontece agora? Tivera tanto tempo para construir aquele pedacinho de sonho que não pensara no após, no despertar. Reparou em volta. Percebeu que o vento soprava forte, as ondas se achegavam cada vez mais e a mistura de areia com água – a base do castelo – era frágil e instável. Afinal – raciocinou - castelos de areia não são feitos para durar muito tempo, são fugazes e tão passageiros quanto divertidos.

Aquilo lhe afligiu de tal forma que não podia mais se regozijar de seu árduo trabalho, mas apenas lamentar pelo seu fim iminente. Seria derrubado pelo vento? Arrastado pelas ondas? Destruído pelo ruir de sua própria fragilidade? Não era justo que estas intempéries lhes destruíssem a alegria. Olhou para aquele monte de areia toscamente esculpida, suspirou, e, agarrando uma pedra pesada para a força de seus bracinhos, arremessou-a com fúria na construção, que desabou quase instantaneamente, caindo sobre si mesma. Apenas quem a construiu tinha o direito de destruí-la.

Lentamente, as ondas chegaram e foram levando os destroços com águas tão salgadas e amargas quanto aquela pequena lágrima que agora surgia naqueles olhos infantis.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Doença Terminal

Canelas apressadas vão em todas as direções. Mãos abertas oscilam no ar. Pulsos ostentam relógios tiquetaqueantes. No terminal rodoviário, o agora é onipresente.

DespedidaAs pessoas, formiguinhas, partículas caóticas, movimentam-se de um lado a outro em busca da sua direção. Há também os que esperam e os que correm. Mas a pressa que devoram não lhes confere vida alguma. No terminal rodoviário, o tempo se distorce.

Aqui e acolá despontam abraços de alívio ou de angústia. E também lágrimas, de reencontro ou de separação, algumas tímidas, outras inéditas, outras secas. No terminal rodoviário, o lugar da despedida é sempre um abraço. E cada adeus a Deus somente cabe testemunhar.

Pessoas partem. Corações se partem. Mas os que chegam sempre voltam com mais bagagem.

Eles vão e vêm. E vêem em vão o outro diminuindo no horizonte.

Ao longe, no terminal rodoviário, mãos que acenam adeus são iguais as que acenam bem-vindo.
São idas e vindas tão fugazes quanto a onda que, ao ser quebrada, retorna ao mar que lhe cuspiu.

No terminal rodoviário, as pessoas estão doentes. Pacientes impacientes. Contaminados de saudade, doença terminal.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Texto

Saudações. Permita-me que eu me apresente: sou um texto, como já deves ter percebido. Não tenho nome marcante, não sou príncipe, nem conde e tampouco barão. Meu único título é este aí de cima. Como vim parar aqui não sei. Talvez tenha sido escrito, ou simplesmente cuspido, só sei que aqui estou eu. Tu sabes como fostes parar aí onde estás? Quem te escreveu ou cuspiu? Quanto a mim, não encontrarás em meu corpo grandes defeitos ortográficos ou doenças verbais, mas sei que estou longe de ser elegante. Mas não culpo meu autor, como já disse, o desconheço.
Não se engane: eu não tenho nada a dizer. Porque é que todos acham que os textos devem sempre dizer algo? Justo nós que temos uma existência tão breve que só dura enquanto pousam os olhos sobre nós, sedentos de informação, distração, emoção ou qualquer coisa que um texto possa proporcionar. Mas não este que vos fala. Ao que me parece eu bem poderia ficar um tempo em silêncio.




























































Viu só?
TAMBÉM POSSO GRITAR!
Oufalartudodeumavezsemrespirarnemperderofôlego.
Se assim lhe agradar
Também posso rimar.

Posso ir daqui 

até lá.

Mas estas pequenas margens

são o limite do meu mundo.

Portanto, a única maneira de manter alguma chama viva de minha natureza é em forma de pensamento, mesmo que esta chama se apague fugazmente um tempo depois. Se pensares em mim, então, viverei um pouco mais. Do contrário, sou como qualquer outro de teus semelhantes: apareço em tua vida, andamos de mãos dadas e nos despedimos na próxima estação.

De qualquer forma, obrigado pela companhia, foram excelentes minutinhos. Se sou um bom texto espero ter, igualmente, lido-te também.
Devo partir agora. Na linha-férrea da existência saltarei no próximo ponto.

E aqui está ele.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Final Feliz

Os finais felizes
Fenecem as raízes
Em beijos de atrizes
No limbo da ficção.

Irreais, desejados
Jazendo maltratados
Já saindo atrapalhados
No final de uma sessão.

Até que os olhares,
Brilhando assim aos pares,
Padecem pelos males
De ser tudo ilusão.

Mas uma esperança
(Ainda tola: é criança)
Com toda confiança
Aparece no coração.

E se a verdade é bem pouca,
A alegria é uma louca
Ladrando com voz rouca
E ameaçando a razão.

E assim, a realidade,
Esta velha de muita idade,
Se rende à necessidade
De viver com emoção.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lua

Assim, iluminada por uma fraca luz laranja em sua semi-esfera inferior, A lua crescente parecia sorrir debochadamente. Quantas promessas, quantas juras de amor já teriam sido feitas evocando o romantismo deste corpo celeste? Por quantas vezes terá sido este círculo branco a única paisagem em comum entre dois amantes distantes? Quantas lágrimas já atraíra de olhares com a mesma intensidade que atrai as águas do oceano e as faz encher as marés? Não seria ela própria uma apaixonada pelo globo terrestre, orbitando em sua volta sem jamais poder toca-lo e, por vezes, bloqueando o Sol em eclipses de ciúmes?iashdiagd

E, lá do alto, ela observa. Uma testemunha distante, debochada e eterna. Mas ainda sim louvada, admirada e amada.

Ela sabe que, ao contrário do que nossa história conta, foi a Lua quem conquistou o Homem. 

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A criatura alada

Era uma manhã banhada em sol. Mas aquela luz, diria o poeta, não queimava nem siderava: sorria. Da grama fresca desprendia-se uma fragância que trazia aos sentidos a lembrança de dias recém-nascidos. Árvores desfolhadas erguiam seus braços retorcidos ao céu em gesto de adoração. Ao longe, ouvia-se o tilintar agudo e doce de aves entretidas com migalhas que lhes eram jogadas. Animaizinhos animados corriam pra lá e pra cá em um pequeno espetáculo que só era admirado por um par de olhos. Olhos de um jovem garotinho. Olhos curiosos e ávidos ante um mundo onde tudo parecia novo. Estava livre daquele peso que existe nos olhares adultos, que dão boas vindas ao novo já temendo uma possível despedida.

Caminhou com aquele andar vacilante próprio das crianças pequeninas, afastando-se da atenção do pai, entretido com as questões mais importantes do universo impressas em um quadrado de papel.
Foi quando aquele par de olhos foi atraído por algo inusitado. Ao longe, em um lago de águas turvas havia uma criatura, diferente de todas que conhecia. Tinha um pescoço longo e curvo, mas não desajeitado. O corpo sinuoso deslisava sobre as águas e deixava um rastro de ondinhas passageiras. Era branco e alado, como um anjo. E as asas, quando abertas, eram imponentes e graciosas, cobertas com algo que parecia uma seda dos deuses. Ao redor dos olhos destacava-se um círculo negro, conferindo uma atmosfera misteriosa aquele ser. Seria mesmo um animal? Um simples animal?

E aquela criança, pela primeira vez em sua breve vida, ficou perplexa. Uma sensação que seu incipiente vocabulário não era capaz de descrever. Mas não seriam também as palavras dos adultos pobres e vazias? "Saudade", "amor", "esperança" conseguiriam descrever tudo o que elas representam? Porque tudo que sentimos deve estar preso às palavras? São indagações que aquele garotinho só faria anos mais tarde. Ou será que não? Talvez ele crescesse e simplesmente se conformasse com a tirania do dicionário frio, vazio, inescapável.

Nunca saberemos.

Uma mão , de repente, tocou-lhe o ombro, mas ele não se assustou, voltando logo a fixar os olhos à frente. "É só um cisne", disse uma voz masculina. E naquele instante, como por alguma mágica maligna, o encanto se foi. Aquela criatura magestosa, de asas alvas e olhos negros de beleza inefável passou a ser um simples "cisne". Mesmo sem saber, o garotinho sentia como se aquela canto agudo e doce das aves tivesse cessado repentinamente. A sua perplexidade fora arrancada e levada embora por um novo sentimento cuja sensação também não estava no seu vocabulário: desilusão.

E o resto foi silêncio.

domingo, 27 de junho de 2010

Caixa de Pandora

Subiu em uma cadeira, ficou na ponta dos pés e finalmente conseguiu puxar uma caixa empoeirada de cima do armário. Não sabia exatamente o que procurava, mas o que encontrou foi lembranças. Talvez quisesse, sem perceber, encontrar um si mesmo há muito esquecido. Soprou o pó, que rodopiou pelo quarto enquanto uma fresta de luz iluminava cada partícula rebolante.

Abriu-a.

A caixa, como se houvera sido violada em seus segredos, respondeu mostrando-lhe um velho álbum de fotografias; um objeto pertencente há um outro “quando”. Uma época onde as memórias eram dignas de serem protegidas do onipotente e corrosivo tempo e sua cauda escura, o esquecimento. E o que aquelas molduras enquadravam nada mais eram que resquícios, migalhas de de uma era passada há poucos ontens, mas há muitos nãos de distância.

A cada página virada, o coração hesitava em bater novamente. Aqueles sorrisos imóveis, aqueles abraços para sempre aconchegantes, os olhares de brilho incorruptível, aqueles beijos libertados de seu minúsculo fragmento de tempo. Todo esse caleidoscópio girava antes os olhos e fazia doer o peito, como se houvesse em seu interior um câncer até então adormecido.

Olhou-se no espelho. As rugas de expressão eram a única evidência de que já houvera naquele rosto sorrisos. Eram como o solo revolvido ao arrancar-se uma raiz profunda. Os olhos já não brilhavam, não porque não transparecessem a alma, mas justamente porque a alma era opaca e vazia. Nem uma lágrima sequer ousava insinuar-se ali.

Virou a caixa de cabeça para baixo, esvaziando-a com fúria. E dali saíram todas as suas póstumas alegrias, transmutadas em suas desgraças. Olhou para o fundo da caixa, mas não havia ali esperança alguma. “Talvez ela tenha ido embora ou morrido” – indagou-se. “Mas, se a esperança é a última a morrer” – pensou - “ o que resta de vivo em mim?”

Do chão, seus próprios olhos brilhantes o contemplavam com sorrisos ironicamente imóveis. A última partícula de pó flutuou, rodopiou pela última vez e depositou-se delicadamente sobre sua última vontade de viver.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Vuvuzela reencarnada

 

Já fui muitas coisas em muitas vidas. Coisas boas e coisas ruins, porém não tão terríveis quanto a que estou estou prestes a ser.

Mas comecemos pelo começo.

Meu primeiro fragmento de memória é antigo, muito antigo. Se foi minha primeira existência ou não é difícil dizer, mas é a primeira de que me lembro. Eu era uma trombeta. Isso mesmo! Mas não uma trombeta qualquer, eu pertencia aos guerreiros de Israel. Lembra das muralhas de Jericó? Não? Bom, faz um tempinho mesmo. O fato é que, eu possuía uma força tão descomunal que, soprada junto com minhas irmãs, abalei as estruturas da muralha e ela caiu! E a cidade foi conquistada graças ao meu imponente grito.

Mas nada dura para sempre. Depois de alguns séculos, o Grande Criador (o cara que cuida dessas questões logísticas) me designou para uma outra existência. Dessa vez eu era um clarinete. Mas não um clarinete qualquer, eu pertencia a um músico da Orquestra Sinfônica de Bethoven! Ah, bons tempos! Cantarolava a noite toda, era manuseada com carinho e produzia sons tão belos que arrancavam lágrimas de quem quer que me ouvisse… Pertencia à nobreza dos instrumentos musicais, tinha um corpinho esbelto…

Mas o tempo passou e aquela vida chegou ao fim. Novos tempos vieram e eu retornei ao serviço militar. Era uma trombeta de atalaia. O quê? Não sabe o que é isso? Bom, são aqueles soldados que ficam no alto do morro vigiando o inimigo e, quando vêem algo suspeito, tocam a trombeta! Salvei muitas vidas assim, mas não gostava de ser dedo-duro.

Bem, antes ser dedo-duro do que a minha função posterior a isso. Fui designado como tromba de elefante! Ficava o dia inteiro suja de capim e baba de elefante, fazendo barulhos estranhos e cheirando a bosta. Fora o acasalamento. Já viu um beijo de elefante? Sorte sua. Acho que todo mundo passa por fases ruins na vida. Ou nas vidas.

O tempo foi passando, e eu já havia sido trombeta, clarinete, trombeta de novo, tromba de elefante, cornetinha-de-festa-infantil, alarme de incêndio, flauta doce, canudinho de açaí, Cornetto (o sorvete), trompete de banda de escola e muitas outras coisas…

Recentemente, fui uma vuvuzela. No começo foi divertido. Clima africano, futebol, torcida, festa, algazarra. Mas depois confesso que até eu comecei a me achar irritante. Aquela zueira ensurdecedora por horas não deve ser coisa de gente normal.

Mas eu reclamei de barriga cheia, nem desconfiava da tragédia que me esperava. Como das outras vezes, o Grande Criador veio me incumbir de minha tarefa em minha nova existência. “Minha cara vuvuzela, outrora trombeta, outrora clarinete e trombeta novamente, outrora tromba de elefante, cornetinha-de-festa-infantil, alarme de incêndio e flauta doce; outrora canudinho de açaí, Cornetto (o sorvete) e trompete de banda, tenho uma nova existência para ti. Encarnarás como um ser humano, e sua sina será será ser odiada por todos e ecoar um som horrível, o pior que já produzistes até hoje.”

Eu pedi, implorei. Aceitaria ser novamente tromba e até focinho de gambá. Mas foi em vão. “Eu sei de todas as coisas” – respondeu ele - “encarnarás como ser humano. E chamar-te-ão Galvão Bueno”.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Camisa do Corinthians

 

Marcelão devorava um sanduíche sem mesmo olhar para ele, distraído que estava com a pequena tv colocada na prateleira mais alta, atrás do balcão da lanchonete.

- Viu só Carlos! Chom chomp. O coringão meteu 3 a 1 de virada ontem! Chomp chomp. Eu vi tudo lá do Pacaembu. Chomp.

- Comemore mesmo. Não fez mais que a obrigação. Uma vitoriazinha de nada em cima do Sertãozinho em casa… Quer dizer, casa não né… quem sabe um dia vocês viram um time digno de ter um estádio próprio… 

- Ah… falô o sabichão. Grande merda aquele Palestra Itália! Um bando de porcos só podia viver num chiqueiro mesmo!

- Fale o que quiser, a gente tá liderando a Libertadores. Aliás… quantas vocês já ganharam mesmo? Aliás, não fale nada, eu preciso ver a patroa e as meninas na apresentação do coral. Essas coisas de igreja, sabe como é… MERDA!

- Não fala isso que é pecado, Carlão!

- Não tô falando disso, ô gambá. Olha, derrubei mostarda na minha camiseta nova! Ai meu São Marcos! Não posso aparecer assim na igreja, aquelas velhas são umas loucas… outro dia quase expulsaram a Rita do coral porque ela tava com um botão faltando na blusa… MERDA!

- Relaxa, meu amigo, a gente passa rapidinho em casa e eu te empresto uma camisa…

Quando chegaram na casa do amigo, Carlos ouviu a pior notícia possível:

- Xii, Carlão… só tem camisa do timão. As duas únicas camisas que não são do Coringão tão na lavanderia…

- Cê só pode tá zuando né, Marcelo? Eu não posso profanar meu corpo vestindo essa… esse… LIXO!

- É isso ou perder a apresentação… e eu acho que a sua patroa não faz lá o tipo compreensiva…

Carlos ponderou, pensou, refletiu. Dilema: divórcio ou vergonha? Mulher ou honra? Coral ou coro? Família ou mulher e filhas? Suspirou.

- Bom, acho que não tenho escolha….

Foi a sensação mais estranha que já sentira… Era como se todos pudessem vê-lo ali dentro do carro e o olhassem de forma enviesada…

A sensação só piorou ao chegar na igreja. Tentou ao máximo não olhar nos olhos de ninguém e, esgueirando-se, sentou no banco, onde se sentia ainda mais exposto… Um velho conhecido passou por ele e disse, apesar das suas tentativas esconder o rosto…

- Carlos… justo você que…

-Eu sei, eu sei… longa história, não tive escolha.

Começou a apresentação do coral, e os 40 minutos passaram em 4 horas. Carlos já se sentia um alienígena. Quem dera, alienígenas são verdes…

Depois da cantoria, suas filhas e a esposa, que também eram fundamentalisticamente palmeirenses, estavam ruborizadas de vergonha. Antes que a esposa se aproximasse com aquele olhar de desprezo, Carlos tentou desculpar-se, mas foi logo interrompido pela mulher:

-Calado, Carlos. nem uma palavra sobre isso. Já pro carro! E vista uma camisa, pelo amor de Deus.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A Despedida do Trema

 

Olá leitor do K-Blog!

Como eu havia prometido neste post, a Despedida do Trema está de volta. Ela foi publicada na Revista Offline nº 16, que circula em vários estados do Brasil. São milhões de leitores que, como nós, sentirão a falta dele. Então vamos para a nossa última homenagem, ele merece. Aproveite e comente!

A despedida do Trema¨

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim.

Eu sou o trema.

Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos. Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos!

Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!

O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio… A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois-pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé. Até o Cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?

A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W. “Kkk” pra cá, “www” pra lá. Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que, aliás, deveria se chamar TÜITER.

Chega de argüição, mas estejam certos seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou “tremendo” de medo.

Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o Alemão, lá eles adoram os tremas.

E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar.

Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

Adeus..

Trema¨

 

Gostou? Então você também vai gostar desses posts:

Pontos – Uma árvore genealógica dos… pontos ortográficos?

Procurando EMO – Os devaneios de um peixe emo e solitário.

E se a bíblia fosse escrita por jornalistas? – Noé, Adão e Eva, Moisés, Jesus, Jonas. As histórias bíblicas de um ponto de vista totalmente inusitado.

Simão, o vacilão – Todo mundo conhece um vacilão, mas o Simão é um profissional.

Pôr-do-Sol – Ah, o romantismo! Será que ainda se encontra alguém romântico por aí?

Poucas palavras – Histórias curtas também podem ser engraçadas. São 8 delas em menos de 800 palavras.

Voluntário do C.V.V. – O que acontece quando um cara-de-pau vai trabalhar no Centro de Valorização da Vida recebendo as ligações mais bizarras?

Secretária eletrônica – Casal Nardoni, Chapolim Colorado, Rubens Barrichelo, Deus e outros. Os recados de secretária eletrônica mais interessantes do mundo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Secretária eletrônica

 

Você ligou para os Nardoni. Não podemos atender no momento, deixe seu recado após o bip e retornaremos a ligação daqui a 35 anos. Biiip.

 

Atenção, atenção! Minhas anteninhas de vinil estão detectando uma ligação! Neste momento estou correndo do… quer dizer, correndo atrás do pirata alma negra. E agora, quem poderá te atender? Palma, palma, não priemos cânico. Deixe seu recado após as palavras cabalísticas e… Chirrim! Eu te respondo. Não contavam com minha astúcia! Barangaricotiquimirruaro!! Biiip.

 

Pronto querida… o que eu faço agora? É só falar? Ah, tenho trinta segundos pra gravar a mensagem? O que você quer que eu diga? Como assim qualquer coisa? Já sei, vou começar falando “Oi”. Não, “Olá” é mais simpático e menos pessoal. Ou “Alô” seria melhor… Hã? Porquê você tá gritando? Tá bom tá bom. Deixa eu ver… Você ligou para o Rubens Barrich…biiip.

 

Aqui é Alexander. Não posso atender no momen... peraí! Eu acabei de inventar o telefone! Ninguém pode estar ligando pra mim! A não ser que você tenha roubado minhas ideias. Impostor de uma figa, você me paga! Nos vemos nos tribunais! Biiip.

 

Você ligou para o Centro de Valorização da Vida. No momento, todas as nossas linhas estão ocupadas, o mundo não gira à sua volta querido.Biiip.

 

Aqui é Samuel Morse, aquele do código. Deixe seu recado e tornarei sua ligação. Bip bibip biipibibi bibibi piii bii bipi biip.

 

Seven days! Biiip.

 

Olá, não posso atender no momento. Sabe por que? Porque aquele filho da p%$#@ do Pedro pegou meu chip! Peeeeeedrooooooo, me dá meu chipeeeeee! Pedrooooooo, me dá o que é meu, me dá meu chiiipeeeeee!!!! Biiip.

 

Você ligou para o centro de tratamento de doenças auditivas, deixe seu rec…Ah, deixa pra lá. Biiip.

 

Aqui é Deus. Se eu não posso te atender agora, esquece, você já tá ferrado de qualquer jeito. Biiip.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Frases soltas

Baboseiras que você só encontra em www.twitter.com/lucasns. Sigam-me os bons!

 

Dinheiro

O mundo tá ficando tão consumista e ganancioso que daqui a pouco os Lobisomens só vão morrer com balas de ouro.

O restaurante aqui perto de casa tá com uma ótima promoção: qualquer prato sem entrada.

Existem coisas que o dinheiro não compra. Tenho que me contentar só com elas mesmo.

Quem tira nota vermelha dificilmente ganhará uma nota preta pra viver no azul.

O pobre até pode ver lindas paisagens todos os dias, mas os ícones atrapalham.

Atenção maridos: se sua mulher não ganhar diamantes, vai ganhar de amantes.

Ser rico mesmo não é jogar aviõezinhos de dinheiro, é jogar dinheiro de aviões.

Quando o pobre quer que o filho seja rico, coloca o nome de ENRIQUE.

O único jeito de pobre se sentir rico é casando com uma mulher "DO LAR".

Eike Batista deveria investir em energia eólica. Afinal, dinheiro na mão é vendaval...

A mulher melancia deve ter muito dinheiro. Pelo menos, tem uma ótima poupança.

Aqui de faz aqui se paga, dizia a placa do MOTEL.

Calor

Hoje tá tão quente que o termômetro não tá marcando 30º Celsius, mas sim 30º INFERNIUS!

Hoje tá tão quente que os demônios vieram do inferno pra pegar um bronzeado.

Hoje tá tão quente que a Grazi Massafera me chamou pra debaixo das cobertas e eu recusei.

Hoje tá tão quente que não estou suando, são os meus poros chorando...

Hoje tá tão quente que o cereal de milho virou cereal de pipoca...

Hoje tá tão quente que os raios de Sol estão mais para ultra-VIOLENTOS.

Hoje tá tão quente que o Al Gore tá nas ruas dizendo:" Eu avisei!!"

Hoje tá tão quente que não foram só as calotas polares que derreteram. As dos carros também.

Hoje tá tão quente que não aconteceu nenhum assassinato a sangue frio.

Hoje tá tão quente que o SBT cancelou a exibição de Cold Case.

Hoje tá tão quente que eu falei com uma garota e ela se derreteu toda.

Religião

Quando você vê a qualidade da programação de TV no Domingo descobre porque as igrejas estão cada vez mais cheias.

Dai a César o que é de César, e adeus o que é de Deus.

Se Jesus tivesse twitter: Cada um carregue sua própria conexão e dê um follow em mim...

Quando nasci, Deus disse : desce e arrasa! Mas eu nunca obedeci...

O Twitter revolucionou as seitas religiosas. Você pode ter milhares de seguidores sem cobrar dízimo.

Não farás para ti imagem melhorada pelo Photoshop.

Tire as Havaianas dos seus pés, pois o lugar onde pisas é sagrado, e também uma repartição pública.

Não chamarás a atenção no MSN em vão.

Não darás falso testimonial Copy Paste no Orkut.

E conhecereis o sistema judicial brasileiro, e o sistema judicial brasileiro vos libertará.

Ainda que eu ande pelo Vale do Silício, não temerei Microsoft alguma, pois o Google está comigo.

Quem nunca recebeu um e-mail com propostas de aumento do pênis que atire o primeiro SPAM.

Não cobiçarás a mulher do próximo, nem seu iPhone, PlayStation 3, MacBook Air ou seu acesso ao Google Wave.

Solidão

Ando tão sozinho ultimamente que entro no Orkut só para ele me dizer que tenho 213 amigos.

Ando tão sozinho ultimamente que agora sou eu quem ligo para o telemarketing da telefônica.

Ando tão sozinho ultimamente que entro no Yahoo só para ver a frase "Olá, lucasnascimento_2005!"

Ando tão sozinho ultimamente que fui gritar em uma caverna só para ouvir o eco.

Ando tão sozinho ultimamente que me converti ao Islamismo. Conversando comigo mesmo.

Ando tão sozinho ultimamente que um garoto autista ficou com pena e me chamou para brincar.

Ando tão sozinho ultimamente que disse boa noite pro espelho. Ele não respondeu.

Ditados

O que seria do verde se todos gostassem do azul? Subversão!

Aqui de faz aqui se paga, dizia a placa do MOTEL.

Em terra de cego quem tem olho trabalha no circo dos horrores...

Em briga de marido e mulher, alguém meteu alguma coisa.

A mulher do vizinho é sempre mais verde, disse o Hulk.

Cinema

Existe uma coisa que me faria assistir Crepúsculo. Um Cross-over com Blade.

Melhor filme? Melhor atriz? Melhor direção? O Brasil vai ter que se contentar mesmo com o Oscar Niemayer.

Se minha vida fosse um filme, demitiria o diretor. Odeio vilões previsíveis, história monótona e protagonista que morre no final.

Tem filme que te gruda na poltrona. Quando algum cretino deixa um chiclete nela.

Comida

Sou tão anti-social que só como biscoitos "Club".

Bolo de aniversário, brigadeiro, beijinho, balinha de coco. Isso é que é FEST-FOOD.

os viciados em tecnologia só comem biscoitos CREAM-CRACKERS

Anoréxicas se recusam a entrar em estado de COMA.

Falta tanta comida na África que eles não querem nem pensar em regime democrático...

Carne não contém glúten, principalmente as do São Paulo Fashion Week, que não contém glúteos.

em casa todo domingo tem churrasco. E no dia seguinte, carne de segunda.

Fetiches

Fetiche de bandido é COP LESS.

O Fetiche do Rubinho Barrichelo é dar uma rapidinha.

fetiche de jogador de basquete é INCESTO.

Fetiche de bombeiro é mulher COM BUSTÃO.

Cidades

São Paulo é a cidade que nunca dorme. Tanta violência tira o sono de qualquer um.

Quando você vê o nível das enchentes em São Paulo entende porque os maiores prédios estão lá.

Se São Paulo é a terra da GAROA, o Rio pode ser chamado de terra do ESTRALINHO.

Do jeito que Brasília é super-faturada já já mudam o nome pra Corolla.

São Paulo quer trocar a Marginal Tietê e a Marginal Pinheiros por todos os marginais do Rio de Janeiro.

Política

No twitter do Senado diriam tudo em 140 mal-caracteres.

Os Twitters de políticos deveriam vir precedidos não de um @, mas de um "Ah, rouba".

PREVISÃO PARA 2010: Os jogadores da seleção vão colocar uma estrelinha verde no peito e os cabos eleitorais do PT, uma vermelha.

Relacionamentos

É um caminho curto entre a atração e a traição

Decepções sempre doem como decepações.

O ser humano, ao contrário do reino animal, fica mais vulnerável quando ganha chifres.

Mais fácil que encontrar alguém que te dê bola é encontrar alguém que te dê bolo.

As siglas mais temidas de todos os tempos: em 3º lugar: IPTU. Em 2º lugar: AVC. Em 1ºssimo lugar: D.R

Outras

Macacos me mordam! Disse a banana suicida.

Se você é ruim de matemática, então somos 3.

fazer piada com deficiente físico é uma tremenda mancada.

"Ô happy days... ...ô happy days" - é o melô do Schumacher

Eu não vejo problema nenhum em tuitar no trânsito, é uma forma de sashdhiauww aiuschiausgc ascyauscus.c......................

Nada contra a infância. O problema é quando ela se manifesta depois dos 20...

Odeio twitadas metalinguísticas.

PREVISÕES PARA 2010. Ou o Dunga vai se tornar Zangado ou Feliz.

Don't you hate people who wanna show their english speaking skills?

Eu sou uma pessoa que sempre termina o que

quarta-feira, 3 de março de 2010

Voluntário do C.V.V.

 

Certo dia, ele resolveu ser voluntário do C.V.V. – o Centro de Valorização da Vida. Não que houvesse algo nele de nobre ou altruísta, pelo contrário, era um grande filho da mãe. A lógica era outra:  passar o dia todo ouvindo pessoas ferradas e acabadas pra se sentir menos ferrado e acabado. O trabalho era relativamente simples: atender ligações de gente deprimida, traumatizada ou com impulso suicidas, citar um ou outro jargão de auto-ajuda e pronto. Ficou sabendo que uma semana antes, um voluntário não aguentou a pressão e desistiu. “Fracote”, pensou, desdenhando o assunto. Aliás, já se imaginava na roda de amigos contando os casos bizarros que ouviria durante o dia quando a primeira chamada tocou.

- Centro de Valorização da Vida, bom dia.

- Bom dia? Como assim bom dia?

- Desculpe, senhor?

- Você trabalha aí nesse troço onde só liga quem tá desesperado e me vem com “bom dia”? Tá querendo ser irônico? Dizer que tem um bom dia, uma boa vida, enquanto eu tô na merda? Quer saber, não preciso de vocês, bando de filhos da p*#@. Vou ligar pro disque-sexo.

………………………………………………

- Centro de Valorização da Vida, bom… err… bom, o que deseja?

- Tô arrasado. Minha namorada terminou comigo…ela era tudo pra mim, minha vida… acho que enjoou de mim… Só porque eu não conseguia satisfazer todos os seus desejos sexuais… Mas ela também tem que entender que eu não sou uma máquina! Preciso dormir pelo menos oito horas por dia…

- E ela é bonita?

- Sim, muito.

- Vamos fazer o seguinte: você esquece essa mocréia, ela não te merece, é uma ninfomaníaca descontrolada. Agora, me passe o numero de telefone dela para que eu possa estar entrando em contato e me certificando que ela não mais incomode o senhor, ok?

- Tu..tudo bem. Obrigado, acho. o Telefone é XXXX-XXXX.

- O C.V.V. agradece muitíssimo a sua ligação!!

………………………………………………

- C.V.V.  em que posso ajudar?

- Não aguento mais! Vou tirar minha própria vida! Depois de 30 anos trabalhando de sol a sol, o dia inteiro, com todas as forças e sem nunca ganhar aumento, meu chefe me demitiu! Demitiu!

- E essa raiva toda que está sentindo seria aplacada se o seu chefe se ferrasse também?

- Hmm, acho que sim.

- Aí está a solução. Mate seu chefe.

- Quê? Matar meu chefe? Mas… pera aí, você pode me dar um conselho desses?

- Meu trabalho é evitar que as pessoas cometam suicídio. O manual de procedimento não diz nada sobre assassinatos. Antes ele que você certo?

- Certo, certíssimo. Muito obrigado. Vou buscar minhas facas.

………………………………………………

- C.V.V. pois não?

- Não há mais esperança para mim! Já fui muito rico, e hoje estou falido! Minhas fazendas, Iates, campos de golfe, cassinos, ilhas com celebridades, jacuses com ornamentos de ouro, conta no Itaú Personalité, tudo se foi! Vão tomar minha casa e até já cortaram a luz e a água, só falta cortarem o telef…

………………………………………………

- C.V.V. na escuta bravo-2

- Preciso desabafar com alguém… Preciso de uma direção. Eu costumava ser o palhaço Pagliacci, fazia todos rirem, mas agora quero tirar minha própria vida.

- Hahahahahaha! Desculpa, desculpa, mas fico imaginando a cena de um palhaço se matando… hahahaha. Com o quê? Uma arminha d’água ou uma corda de lenços amarrada no pescoço? Hahaha.

- Não posso mais continuar vivendo, pois ninguém mais ri de mim. Um palhaço que não causa riso é um… hei! Você ainda está rindo? Rindo de mim? Obrigado! Eu ainda tenho graça, alguém ri de mim! De hoje em diante serei “Pagliacci, o palhaço suicida”! Ousado, genial, engraçado. Viva!

………………………………………………

- C.V.V. Onde sua desgraça é meu prazer.

- Alô, é da C.V.V.? Não estou ligando para desabafar, mas para comunicar que meu suicídio já está decidido.

- E qual seria o motivo da morte, senhor?

- Bom, eu sou um grande astro do Rock, todos me conhecem, me veneram, posso ter qualquer coisa, qualquer garota.  Mas ainda sinto um vazio que não consigo preencher. A morte no auge será o meu legado, me fará conhecido não só hoje, mas por décadas. Escreverão livros sobre mim e talvez até filmes. Serei eterno.

- Olha, sinceramente, Sr. Guitar-Hero, acho que o sr, está blefando. Quem tem tudo isso não quer morrer, na hora H vai amarelar, vai querer aproveitar mais os frutos do sucesso.

- Seu atendentezinho de merda, fique sabendo que quando eu digo algo, nunca volto atrás! Vou me matar SIM, ou meu nome não é KURT COBAIN.

………………………………………………

- C.V.V. Que é?

- Estou deprimido. Sinto que as pessoas não ligam pra mim. Minha família, meus amigos, ninguém me ouve, ninguém! Não suporto mais essa situação, todos me ignoram como seu eu fosse invisível…Alô? Alô?

………………………………………………

- C.V.V. Desembucha!

- Cheguei no fundo do poço. Não resta nenhuma esperança. Já fui de tudo nessa vida, mas agora vejo que não dá mais pra me enganar. Minha vida não vale nada. E meu último emprego só ajudou a me empurrar para o buraco.

- E que emprego era esse?

- Eu costumava ser atendente do C.V.V.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Poucas palavras

Incompatibilidade

Ele era piloto, ela era baixista de uma banda de rock. O casamento durou apenas seis meses. Toda vez que ele voava, ela usava tomara-que-caia. Toda vez que ela tocava, ele usava samba-canção.


Burocracia

Nossa empresa quer melhorar a cada dia e acabar com a burocracia. Se você não gosta da burocracia, favor encaminhar requerimento em duas vias escrito de próprio punho em papel timbrado e entregar ao respectivo responsável de sua seção no dia anterior a sua segunda folga do mês.


Super

- Não quero nada com você garota!

- Ai, mas porque?

- Você é superficial.

- Ai que bom, pelo menos você me acha “super” em alguma coisa.


Amnésia

- O senhor é o médico que tratou do meu marido depois do acidente?

- Isso mesmo senhora. Ele teve alguma piora?

- Não. É que agora ele nunca lembra do meu aniversário, nem de buscar as crianças na escola e nem do nosso aniversário de casamento. O que eu faço?

- Isso se chama S. A. S.

- S A. S?

- Síndrome de Amnésia Seletiva. Ele pode esquecer alguns fatos importantes da vida. É consequência da pancada na cabeça. É muito importante que a senhora seja compreensiva, trate-o muito bem e faça massagem nos pés dele uma vez por dia.

- Nos pés?

- A senhora não entenderia, eu teria de usar termos médicos complicadíssimos.

- Tudo bem então (eu acho). Obrigada, doutor.

Dali a cinco minutos o médico pega o telefone:

- Alô, Pedrão? Ela caiu.

- Valeu doutor, o dinheiro já está na sua conta.


Mortos

- Eu vejo gente morta! Todo o tempo!

- Mas o senhor não é o coveiro do cemitério?

- É meu jeito de puxar assunto, seu chato.


Balas

- Moço, olha, meu pai me deu dinheiro pra comprar balas!

- E o que você vai levar, garoto?

- Uma dúzia pra 38, cinco pra fuzil AR-15 e mais dez de 9mm.

- Posso te dar o troco em chicletes?


Conspiração

- Não acredito no que a grande mídia diz. Globo, Veja, Folha, são todos uns capitalistas vendidos e manipuladores.

- E onde você ficou sabendo disso?

- Vi em um vídeo caseiro no Youtube. Tinha quatro estrelinhas.


Futilidade

De repente, sentiu uma profunda angústia. Era como se percebesse que sua vida era extremamente fútil. Pegou uma revistinha de palavras-cruzadas na mesa de centro, resolveu todas e sentiu-se bem melhor.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pôr-do-Sol

Após um dia de pouco trabalho, no qual permaneceu tímido a maior parte do tempo, o Sol se despedia das nuvens beijando-lhes a face branca, que, envergonhadas, ruborizaram-se em tons de vermelho, laranja e rosa. O manto escuro da noite já se desenrolava lá em cima e ia sendo pregado ao firmamento, cada estrela, um botão. Enquanto um último quinhão de luz atrasado corria para esconder-se atrás de um monte, era observado por um par de olhos indiferentes à indiferença das pessoas ao redor. Sentada ali naquela praça, construída no lugar mais alto da cidade, Maria era a única espectadora daquela valsa de luzes e cores.

Naquele cenário, poderia ela própria fazer parte do espetáculo, pois sua beleza em nada devia a das estrelas de luzes fugidias. Era um presente da natureza aos olhos humanos. Dos pêssegos emprestou a textura da pele e, do mel, a cor. As pérolas mais raras que se formam em milhares de anos invejavam seus dentes alinhados em um sorriso brilhante envolto em lábios delicados como a seda. A cor dos olhos veio da noite sem estrelas, e o oceano lhes concedeu sua profundidade. Não pode-se dizer que caminhava, mas bailava em harmonia de formas e gestos. Mas, sentada ali naquela praça, permanecia imóvel como uma obra-prima esperando um artista que eternize sua glória.

Repetia esse ritual sempre que possível e sempre que o Sol estivesse disposto a exibir-se em sua retirada como hoje. Ao olhar na direção do poente, não pensava exatamente na beleza de tudo aquilo. Pensava nas centenas de pessoas que por ali passavam e não notavam a natureza pedindo atenção. Perguntava-se se existiam realmente pessoas sensíveis como nos livros de Shakespeare ou nos filmes de amor ou ainda, quem dera, como nos contos de fadas, princesas e príncipes. Sonhava com a vinda de um nobre mancebo que comparasse seus olhos às estrelas como fez Romeu, que lhe trouxesse uma sapatilha de cristal, que brandisse sua espada e a salvasse de um dragão. Ou que ao menos compreendesse a beleza de um pôr-de-Sol.

Seus pensamentos foram trazidos de volta à terra firme ao perceber que um rapaz se aproximava. Achou que ele era bem apessoado e sentiu uma estranha atração por ele. Ele pediu licença, sentou-se ao lado dela e ficou um minuto olhando para o horizonte que dava as boas vindas à nova noite e suas estrelas. “Poderá ser este?”- perguntou ela a si mesma. O moço virou-se para ela com um olhar penetrante, ensaiando as palavras perfeitas para a ocasião, hesitou por um momento e, finalmente, disse:

- Putz, você é muito gata! Tem MSN?

sábado, 2 de janeiro de 2010

10 razões para NÃO ser um goleiro

 

1- Ficar o jogo todo lá atrás vendo o time jogar mal e não poder fazer nada além de berrar “Marca! Marca! Marcaaaaa!”

Uma solidão que dói.

2- Todo mundo achar que você é goleiro só porque não sabe jogar na linha. E o pior: isso ser verdade.

3- Não ter o direito de descansar, porque todo mundo acha que goleiro na cansa… Peça para alguém cair no chão e levantar 30 vezes e dizer se cansa ou não…

4- Usar camisas de cores berrantes (deve ser pra ofuscar a visão dos atacantes). E as calças então? Coladinhas, justinhas: gays, muito gays. E quentes. E o goleiro não pode ficar correndo pra lá e pra cá pra resfriar o suor das pernas, o jeito é aguentar o jogo todo com aquela sensação estranha e nojenta. Tem também as luvas enormes, que te impedem de dar aquela coçadinha no nariz.

5- Já levou uma bolada naquele lugar?

6- Se um atacante perde um gol, nada muda. Mas se o goleiro toma um gol, a culpa da eventual derrota é quase sempre dele.

7- Mergulhar de cara em uma bola na qual o zagueiro vai com as travas da chuteira.

8- Confusão no estádio. Torcida ensandecida dá na louca de arremessar objetos no campo. Quem é o bobão que fica próximo da arquibancada e, ainda por cima, parado? Isso mesmo, o goleiro. Nesse caso, ele recebe as pedradas, cadeiradas, garrafadas, guarda-chuvadas, pauladas, cusparadas, mijadas, sapatadas e hot-dogadas.

9- Se um atacante erra um gol feito, ele errou, e pronto. Agora se o goleiro erra, isso tem até nome técnico: FRANGO. Um único frango é capaz de manchar toda a carreira de um goleiro. Depois dele e do drible da Vaca, qualquer goleiro se torna vegetariano.

10- Só ressaltando a razão nº 5.